1921
2021
Histórico da Paróquia Nossa Senhora da Paz
A história de nossa paróquia foi escrita por gente que merece todo a nossa consideração e respeito. Eram e são pessoas de fé, abnegadas, comprometidas com a causa do Evangelho e que ofereceram o melhor de si a Jesus e à sua Igreja, representadas pelos moradores de Ipanema, pelos devotos de Nossa Senhora e, principalmente, pelos bem-aventurados promotores da Paz. A recordação de alguns aspectos de sua história, no decorrer destes 100 anos, são a gratidão e a homenagem de quem hoje deseja imitá-los e colhe os frutos de sua dedicação e trabalho.
1. A Igreja
O Papa Bento XV, ao final da Primeira Guerra Mundial, mandou incluir na Ladainha de Nossa Senhora a invocação “Rainha da Paz”, agradecendo a Deus e à intercessão de Nossa Senhora o restabelecimento da paz no mundo. Esta foi a principal motivação para a escolha da padroeira de Ipanema e para confiar-lhe a Igreja que iniciava sua construção.
O estilo arquitetônico da Igreja corresponde ao gosto da época: pode ser definido como neo-românico, de arquitetura despojada e simples. Alguns elementos decorativos lembram a arquitetura gótica e árabe. Sua planta, em forma de cruz. O projeto é do arquiteto Gastão Bahiana, e então professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.
A Igreja apresenta uma área de fachada de aproximadamente 3.100 m2 e a altura de sua maior torre alcança 40 m. A torre, em si, é de pedra até a altura de 7,90 m.; sua base é bastante forte e capaz de suportar 10.000 quilos. Os pára-raios foram colocados em 1929, nas pequenas torres, pelo arquiteto Lupí, o mesmo que colocou pára-raios no monumento do Cristo Redentor.
Os sinos, fundidos pela firma Ababillon de Saarberg, Alemanha, trazem as inscrições: “Cristo Rei – Rainha da Paz – e São José”, e foram consagrados pelo Cardeal Dom Leme, aos 8 de outubro de 1930. Os vitrais foram executados, alguns pela Casa Zettler, em Munique, Alemanha; outros vieram da Casa Conrado, em São Paulo.
O altar-mor da Igreja é de mármore tratado e executado na Itália. Foi inaugurado em 21 de novembro de 1926. O ostensório, confeccionado em Paris, contém relíquias do Visconde de Ouro Preto, doado pela família à Igreja. A pia batismal é de ônix da África, adquirida pelo preço de 3.000$000 réis.
O altar de Santo Antônio, todo de mármore, foi inaugurado aos 14 de julho de 1929, na presença de 40 madrinhas. O de São Francisco, também em mármore, foi executado por Heitor Usai.
A imagem de Nossa Senhora de Luján, veio com uma delegação de membros do clero da Argentina, chefiada por Mons. Daniel Figueiroa, que a entregou à nossa paróquia em cerimônia realizada no dia 2 de agosto de 1935. Presentes: D. Aloísio Mazella, Núncio Apostólico; Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República e senhora; Dr. Ramón Cárcano, Embaixador da Argentina, Sr. Odilon Braga, Ministro da Agricultura; Sr. Medeiros Netto, Presidente do Senado; Bispos, Sacerdotes; o Coronel Souza Molina, do exército argentino, que empunhava a bandeira brasileira, e o Almirante Raul Tavares, a da Argentina.
Em janeiro de 1957, iniciou-se a campanha para a instalação de um ar condicionado, o que acabou acontecendo no dia 12 de março de 1961. Tornou-se uma das únicas igrejas, senão a única, que dispunha deste melhoramento na época.
A gruta de Nossa Senhora de Lourdes, ao lado da Igreja, inaugurada em 1958, por ocasião do primeiro centenário das aparições, tornou-se um local de muita piedade, sempre com a presença dos devotos de Nossa Senhora.
Em 1997, o Mons. Manuel Moreira Vieira, nosso atual pároco, decidiu enfrentar o desafio da restauração total da Igreja, visivelmente marcada pelo desgaste natural do tempo, tanto externa quanto internamente. Para a empreitada convidou o arquiteto e professor Luís Neves, que recebeu o encargo de articular o projeto de restauração da Igreja, que buscava identificar e valorizar a memória da sua edificação, refazendo as pinturas originais da época de sua criação. Tudo foi restaurado: telhado, torres, fachadas, esquadrias, vitrais, elementos decorativos, imagens, elétrica, hidráulica, pintura, mobiliário, o presbitério, a gruta, o veleiro, grades externas, pára-raios e também todo o edifício paroquial, onde tanto trabalho é realizado por pessoas abnegadas que servem à comunidade através dos diversos movimentos e pastorais. A nossa retribuição foi ver a reação dos paroquianos mais antigos que, na conclusão das obras de reforma, puderam recordar emocionados a beleza original da nossa Igreja.
2. Como nasceu a Paróquia
Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, primeiro Cardeal e Arcebispo do Rio de Janeiro, criou a paróquia de Ipanema, desmembrando-a das Paróquias de Nossa Senhora de Copacabana, Nossa Senhora da Conceição da Gávea e São Bartolomeu, no Alto da Boa Vista, por provisão assinada aos 6 de setembro de 1921.
Monsenhor Joaquim Alvim, então pároco de Copacabana, há tempos insistia que fosse criada uma nova paróquia, iniciando, ele mesmo, em fins de 1918, as obras da futura igreja matriz, a nossa querida Nossa Senhora da Paz, na então Rua 20 de Novembro, mais tarde Visconde de Pirajá. Procurou, por todos os meios, que os franciscanos assumissem a direção e o prosseguimento das obras, o que de fato aconteceu, até que em junho de 1920 foi apresentado à Cúria Arquidiocesana o primeiro pároco, o Revmo. Pe. Fr. Domingos Schmitz, e seu nome homologado pela autoridade eclesiástica.
As obras, porém, caminhavam a passos lentos. Era uma luta insana angariar fundos para levá-las adiante. Construiu-se então uma vasta sacristia para as celebrações, sendo a primeira missa realizada em 1o de maio de 1921. Mas já no dia 15 de agosto do mesmo ano, as missas eram transferidas para a capela-mor da nova matriz.
A imagem de Nossa Senhora da Paz (vinda da França), que se achava ainda na Matriz de Copacabana, foi benta no dia 14 de agosto, tendo na cerimônia, como paraninfa, a Sra. Laurita Pessoa, esposa do Exmo. Sr. Presidente da República, Epitácio Pessoa, e o Sr. Barão Schmitz de Vasconcelos. De lá, veio em triunfo pela Avenida Atlântica, acompanhada de compacta e emocionada multidão.
Aos 6 de setembro de 1921, como citado acima, foi assinado o decreto de criação da Paróquia de Nossa Senhora da Paz, pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, delimitando-a e “erigindo canonicamente em egreja Matriz a Capella de Nossa Senhora da Paz em construção, gozando por isso, de todos os privilégios e insignias que em direito cabem às egrejas Matrizes”. Ficou assim instituída a nova paróquia “com a denominação de Nossa Senhora da Paz, cuja festa se há de celebrar anualmente no seu dia próprio ou no domingo infra octava com pompa e religioso esplendor, sobre o rito duplice da primeira classe, com oitava.”
Finalmente no dia 8 de setembro, durante a missa solene das 10:00h, cantada por Monsenhor Alvim, em presença do Revmo. Fr. Domingos Schmitz, Frei Tiago, Frei Redemptor da O.F.M.; do Exmo. Ministro do Supremo Tribunal, Desembargador Viveiros de Castro; do Dr. Francisco Van Essem e de grande assistência de católicos, foi lido o decreto da ereção da nova paróquia, tomando posse o primeiro pároco, Frei Domingos Schmitz.
A primeira festa foi celebrada no dia 9 de julho de 1922. Quase nada foi feito porque o povo, com medo da revolução que eclodia no Forte de Copacabana, fugiu para lugares mais seguros, embora por poucos dias. No entanto, de muitas outras partes da cidade acorreram muitos devotos para agradecerem a Nossa Senhora da Paz terem escapado ilesos.
Monsenhor Joaquim Alvim, que tanto se empenhou pela construção da paróquia, em seu testamento deixou escrito que, após cinco anos de sua morte, seu corpo fosse exumado e depositado na nossa Igreja, tendo na placa que o recobrisse a seguinte inscrição: “Reduzido aqui a pó implora preces o vigário que lançou os fundamentos desta matriz e paróquia de Nossa Senhora da Paz.” E ainda: “Quero enterro pobre, simples e em carneiro por cinco anos; findos os quais, os reverendíssimos padres de Nossa Senhora da Paz far-me-ão a caridade de transportar, muito particularmente e sem qualquer solenidade, os meus ossos para um canto daquela Igreja, assinalado de pedra, já lá depositada.” Monsenhor Alvim deixou para este fim 500$000 réis. Faleceu aos 10 de julho de 1935 e, conforme pediu, seus ossos foram transladados em 1º de setembro de 1940 para a Igreja, e lá se encontram até hoje em frente ao altar do Sagrado Coração de Jesus.
Na Igreja foram registrados fatos marcantes na vida de muitas pessoas, como o casamento do falecido Presidente Juscelino Kubitschek com D. Sarah, em 30 de dezembro de 1931 e o falecimento do grande compositor Pixinguinha, em 1973, que viera para ser padrinho de batismo. Por este motivo, até hoje a Banda de Ipanema, ao passar pela Igreja, faz uma pausa, em reverência a este grande compositor.
3. Como era Ipanema
Era um imenso areal com algumas casas salteadas aqui e ali. O bonde, vindo de muito longe, de quando em vez sacolejava sobre os dormentes assentados nas areias. Para a construção da Igreja recorria-se ao povo de Copacabana e Leme, bairros já populosos, inventando-se tudo o que se pudesse imaginar: rifas, leilões etc, a fim de que as obras não parassem.
Prova dessas dificuldades na construção da Igreja encontramos no livro de Tombo de 1923, onde se lê: “Encontramos certa dificuldade em obter licença gratuita para a construção, até agora sempre boamente concedida pelos respectivos prefeitos, negando-se o atual prefeito a dar a mesma licença. Assim foi que pagamos pela licença de 6 meses a exorbitância clamorosa de 1.500$000 réis (um conto e quinhentos). Se continuar assim, haveremos de pagar pela licença até a provável conclusão da obra 25.000$000 (vinte e cinco contos), que se iguala a uma proibição.”
A Praça Souza Ferreira, (mais tarde Nossa Senhora da Paz – nome dado pelo Prefeito Cônego Olympio de Mello) tinha dunas de areia onde, segundo antigos moradores, à chegada da imagem, havia uma cruzeta num dos montes de areia, na qual se lia: “Vende-se um lote – 500$000 réis.” Aos poucos, as ruas foram calçadas e a região urbanizada, até que Ipanema se transformou num dos mais belos bairros da cidade do Rio de Janeiro.
E a nossa Paróquia, desde o início, se entrelaçou com a história de Ipanema, com seus padres e os paroquianos que nasceram e se criaram aqui, tornando-se pioneiros deste desenvolvimento e referência aos que passam pelo bairro.
Muitas outras coisas poderiam ser mencionadas. Citar nomes ou fatos envolvendo pessoas do passado ou da época atual, nos daria sempre uma sensação de injustiça, porque são tantos os sacerdotes e leigos que se doaram e se doam inteiramente à nossa Paróquia, que certamente alguns ficariam esquecidos.
Importante é nunca esquecer que hoje somos beneficiários de um legado de extraordinária riqueza, transbordante de graças e bênçãos de Deus, fruto da fidelidade dos paroquianos que nos precederam e que nós hoje somos responsáveis por passar adiante. Esta é a nossa tarefa e responsabilidade: nossa Paróquia será sempre a casa de Deus, a casa de Nossa Senhora, e a casa de todos os seus filhos.
Fontes: Arquivos paroquiais e “Livro de Tombo”.